segunda-feira, 16 de março de 2009

Dilma candidata dos mineiros? Pode um trem desses?


Por Hélio Caled

Os mineiros vêm Dilma Russeff mais gaúcha que mineira? Seu estilo em nada faz lembrar o velho jeitão dos mineiros fazer política, aquele estilo quem gostar de comer pelas bordas. Com seu ar de mandona, Dilma é direta, fazendo tremer quem ousa enfrenta-la à frente da Casa Civil da Presidência da República, e assumindo cada vez mais a condição de candidata à sucessão de Lula.
É um estilo que contradiz - fere até! - o jeito mineiro de fazer política, onde prevalece a conversa recheada de trejeitos afáveis, embora nem sempre sinceros. O enfrentamento entre os políticos mineiros, quando se dá é mais suave, regado à cafezinho e pão de queijo, muita conversa de gabinete e ao pé-da-orelha. Vale mais os bastidores que o jogo para a platéia - leia-se imprensa.
Já Dilma, embora mineira, foi forjada na política pelos gaúchos. Nascida e criada até a adolescência em BH, engajou-se nos movimentos de esquerda na década de 60, sendo presa e torturada. Quando saiu da prisão, em meados dos anos 70, teve que se mudar para o Rio Grande do Sul para acompanhar o marido, este sim, gaúcho dos Pampas - Carlos Alberto - , que também estava preso e fora transferido para Porto Alegre.
Mineiramente Dilma arranjou um jeitinho de ficar perto do marido na prisão: foi dar aulas aos presidiários. Em Porto Alegre que Dilma cursou Economia, constituiu família e teve uma filha -Paula. Posteriormente, concluiu mestrado e doutorado em Campinas. Junto com o marido de então, entrou na militância política gaúcha. Primeiramente no PDT onde uma de suas primeiras tarefas foi a elaboração do programa de governo de Alceu Collares na disputa pela prefeitura da Capital, em 1985.
O projeto foi escrito na casa dela. Depois da vitória, o partido queria a nomeação de uma mulher no primeiro escalão. Collares optou por Dilma na pasta da Fazenda. Em 1999, no governo Olívio Dutra, após um racha entre PDT/PT, Dilma migrou para as hostes petistas. Integrou a equipe ministerial de Lula desde o primeiro mandato, inicialmente na pasta das Minas e Energia, sendo catapultada depois para ocupar a Casa Civil, devastatada pelo vendával do mensalão que derrubou o até então inabalável José Dirceu.
Testada em seu primeiro escândalo, Dilma sobreviveu bem ao episódio da divulgação do dossiê dos gastos com cartões de crédito da família do ex-presidente FHC. Apesar de fartamente explorado pela imprensa, a repercussão do caso não afetou a ministra. Dilma, que estreiou 2009 de rosto novo após uma bem conduzida cirurgia plástica, tratou logo de se posicionar firmemente como a candidata do PT à Presidência da República em 2010, uma postura que interferiu drasticamente nos planos presidenciais do governador de Minas, Aécio Neves. (Leia artigo postado neste Blog em 08/03/09).
Guindada por Lula ao posto de "mãe do PAC" ela é mais conhecida pela sua capacidade técnica do que pelo seu estilo político. No entanto, o cargo de ministra da Casa Civil coloca-a numa posição estratégica para fazer política. Porém, há um curioso distanciamento que chama a atenção, particularmente dos mineiros: se já se assumiu como candidata, por que Dilma Rousseff ainda não conseguiu fazer com estrelas do PT mineiro abraçassem seu nome? Afinal, Patrus, Virgílio, Reginaldo, Dulci e outros expontes mineiros do petismo no Governo Lula não vão ou não dar a cara a tapa e mostrar-se a favor de Dilma? E o que dizer de Hélio Costa, (PMDB), ministro das Comunicações, e do outrora poderoso ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, hoje discreto deputado, submergido do noticiário político nacional e regional? Também estes vão esquivar-se de apoiar a minerucha?
Isto remete a uma pergunta óbvia: apesar de ter nascido em Minas, seria Dilma a candidata dos mineiros? Difícil fazer este pessoal descer do muro, pelo menos enquanto Aécio estiver a vigia-los. O único mineiro a dar seu apoio a Dilma desde primeira hora foi vice-presidente José Alencar. "Dilma supriria a saudade de ver um mineiro na Presidência da República", disse Alencar.
Dos demais expoentes da política da Gerais ainda se ouviu viv´alma expressar com clareza sua opinião. E isto pode custar caro à candidata de Lula! Apreciadora de ópera e tragédias gregas, além de ter vivido por muito tempo na região fronteiriça com a Argentina, Dilma talvez esteja contaminada pela síndrome platina do "Eu sou vocês amanhã", segundo a qual, o que acontecia no país vizinho logo-logo se repetia no Brasil. Afeitos também a um drama passional , "los hermanos" foram os primeiros latinos a eleger uma mulher para a Presidência da República, feito que repetiram na eleição passada, com Cristina Kirchner. E, como apraz a todos que curtem o sofrimento de um tango, vivem novamente um drama real.
Teremos nós mineiros a mesma sina se não abraçarmos a candidatura de Dilma? Que Dios possa apidarse de nosotros, tchê!

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