sábado, 28 de fevereiro de 2009

Com Sanchos-Pança Aécio não logrará êxito em 2010



Por Hélio Caled, com Abreu Saldanha

Se quiser alcançar a tão almejada candidatura à Presidência da República, o governador mineiro Aécio Neves tem que fazer, ainda este ano, algumas jogadas especialmente acertadas no intrincado tabuleiro da política nacional. A principal delas, claro, é superar a mesma ambição que sustenta o colega paulista José Serra.


Antes, porém, seria bom que voltasse seus olhos para o interior do estado que administra. No momento, seu maior problema é o provincianismo e falta de visão holística de considerável parte de sua equipe de auxiliares e da carência de nomes de peso que possam dar sustentação nacional a suas pretensões. A maioria de seu grupo político joga apenas no cenário mineiro, e não tem qualquer relevância no xadrez nacional, onde as peças são movidas por mãos hábeis de jogadores profissionais.

A dedução lógica, infelizmente, é avalassadora - acachapante até - para Aécio Neves: o neto do dr. Tancredo tem poucas peças que possam efetivamente fazer diferença numa batalha política que se prenuncia acirrada como nunca houve na história recente do Brasil. O quadro fica ainda mais adverso quando se tem em conta que o primeiro "inimigo" a vencer - José Serra - já deu inúmeras mostras do arsenal poderoso que tem à mão, e do quão disposto está de usá-lo em caso de necessidade, com o escrúpulo próprio dos que querem lutar pelo poder. Que o digam Geraldo Alkmin, Roseana Sarney e outras "vítimas" do vigor característico do atual morador do Palácio dos Bandeirantes.


Já Aécio, coitado, se for levar em conta as "armas" que tem, por exemplo, no Senado, pode dar o jogo por perdido. Os senadores mineiros debatem-se com os limites impostos por razões pessoais que comprometerão, com certeza, qualquer disposição de guerreiro por ventura ainda restante em suas índoles dóceis. Como bem retrata o artigo de Caleb neste espaço ("Bancada mineira no Senado é cabeça de bacalhau", também postado hoje), um está irreversivelmente contaminado por “Marcos Valério”; outro, sofre as agruras próprias da natural e inexorável decrepitude de que nenhum humano escapa; e o terceiro, é presa do proselitismo peemedebista.

Na Câmara Federal, o deputado Rafael Guerra, novo integrante da mesa diretora da Casa, aliás por gestão direta de Aécio. poderá vir a ter algum destaque. No entanto, em breve há de sentir exaurirem-se suas forças diante do tacape do PSDB paulista, cujo peso bem conhece o próprio governador de Minas.

O vice-presidente José Alencar apesar da sua fala lúcida e firme terá poucas chances neste tabuleiro devido ao seu atual estado de saúde.

A Aécio torna-se, pois, urgente, antes de sair país afora qual um Quixote num rocim famélico, identificar, em seu próprio quintal, quais as figuras políticas de Minas que têm atuação, projeção e efetiva interferência no cenário nacional. Uma vez identificadas, caber-lhe-á atraí-las para si e convencê-las a jogar seu jogo, desenvolvendo lances que favoreçam seus planos de chegar ao Palácio do Planalto.


Numa análise preliminar vê-se, no momento, somente duas figuras políticas de Minas - afora Aécio, é claro - com espaço político suficiente em seus respectivos campos de atuação para jogar em favor da eventual candidatura do governador a presidente: o ministro das Comunicações Hélio Costa, que poderá fazer a diferença pelo peso que tem no PMDB, e Clésio Andrade, que foi vice de Aécio em seu primeiro mandato, e é reconhecido líder nacional do estratégico setor de transportes e logística. Atualmente, Clésio é suplente do senador Elizeu Rezende.

Contra Costa pesa o fato de ter seus próprios planos e ambições, já que não esconde de ninguém o quanto gostaria de morar, um dia, no Palácio que hoje abriga Aécio. Já Clésio, a despeito das insistentes tentativas de associa-lo ao "publicitário" Valério do Mensalão, tem liderança sob considerável percentual do PIB nacional. Não há dúvida, pois, que Hélio Costa e Clésio Andrade, poderão, sim, ser importantes aliados de Aécio em suas pretensões presidenciais, podendo ajuda-lo em jogadas cruciais que se prenunciam no tabuleiro político de 2010.


Em comum, Costa e Andrade têm a experiência vitoriosa de apoiarem Lula quando o PMDB de Hélio Costa estava com Serra, assim como o PFL, ao equal Clésio então achava-se filiado. Com a discrição própria dos mineiros e o destemor característico de velhos inconfidentes, abandonaram o paulista contrariando suas lideranças partidárias e apoiaram desbragadamente o então controverso candidato do PT. Ambos pagaram um preço por sua decisão. Costa nem tanto, pois seu PMDB, como de praxe, não tardou a aderir ao governante vencedor. Mas Clésio viu-se expulso do ex-poderoso PFL (atual DEM), onde até hoje é visto como Joaquim Silvério por muitos.


Apesar da pecha que lhe impuseram os neo-democratas, Clésio, no entanto, soube preservar parte considerável de seu poderio político, e como Hélio Costa, goza de interlocução privilegiada em esferas decisórias importantes. No governo e fora dele.


Antes de iniciar seu périplo pelo país, portanto, seria muito conveniente a Aécio Neves ver com mais atenção os que se passa nas entrelinhas partidárias de seu próprio Estado. Caso contrário, restar-lhe-á quixotescos apoiadores que mais se aproximam de aios avassalados. E ao que se sabe Sancho Pança em nada ajudou o Cavaleiro Andante a conquistar sua doce Dulcinéia.

Bancada mineira no Senado é cabeça de bacalhau


Para quem não conhece, eis uma cabeça do bacalhau!

Existe um ditado brasileiro: “para
ver cabeça de bacalhau só indo à Noruega”
Ninguém sabe ninguém viu, assim é a bancada mineira no Senado, enquanto as de outras praças põem banca.


Grande parte dos brasileiros não conhece a cabeça de bacalhau porque o Gadus morhua, nome científico do dito-cujo, não existe no País. Isto por que, depois de pescado, o bacalhau passa por um processo de salga e cura, na qual é retirada a cabeça do peixe que não tem valor comercial e ainda compromete o processo de salga.
Como todo o bacalhau que entra no Brasil é importado salgado e seco, as alternativas para se ver a cabeça de um legítimo bacalhau são através de fotografias, coleções científicas, ou, para os mais abonados, nummaravilhoso cruzeiro pelos mares do Norte.
Mas o que importa é que este ditado popular se encaixa perfeitamente para caracterizar a atual bancada mineira no Senado. Ou seja: para saber o que fazem os três representantes mineiros no Senado da República, só mesmo indo até o Distrito Federal para conferir. Não será, decerto, tão empolgante quanto promete ser cruzar os mares nórdicos, mas, assim como a cabeça do Gadeus morhua, os senadores mineiros nós sabemos que existem - alguns sabem até seus nomes - mas é cada vez menor o número de mineiros que lembrem de cor quem são seus representantes na Câmara Alta. A maioria precisaria recorrer à "ajuda dos universitários".

Na história da República moderna do Brasil, a bancada mineira no Senado sempre liderou grandes temas que colocaram Minas no centro dos holofotes da política nacional, além de combaterem anseios provincianos perpetrados por outras bancadas em beneficio da valorização daquela Casa como palco principal de defesa da nação, acima, portanto, dos interesses regionais.

Quem não se lembra do magistral político Tancredo Neves, que do alto da bancada mineira no Senado (1979-1983) liderou a consolidação da democracia brasileira, ostentando, como um inconfidente delirante, o brado: "O primeiro compromisso de Minas é com a liberdade”, lema que ajudou a mobilizar todo o país em torno da volta à normalidade democrática que pôs fim a 21 anos de ditadura militar.

Através da mídia, pouco se tem notícia da atuação da bancada mineira. Nem mesmo pela TV Senado. A mídia regional tmabém não dá destaque aos senadores por Minas. Seria má vontade da mídia ou o trabalho da bancada não chama a atenção, não fazendo jus, portanto, a qualquer destaque nas rádios, TV´s e jornais da terra?
É impressionante a "banca" que alguns senadores conseguem impor naquela Casa, ocupando generosos espaços na mídia nacional, mesmo sem que não tenham a defender causas meritórias que justifiquem tal exposição. Maranhenses, alagoanos e piauienses - representando estados inexpressivos em termos políticos, em se comparando com a tradição histórica de Minas - e não vai aqui qualquer nesga de preconceito - conseguem impor, no Senado, um respeito e galgar tamanha expressão, de fazer inveja a Tancredo e Afonso Arinos.

Talvez a explicação para tanta timidez por parte dos três representantes de Minas na casa que um dia abrigou brasileiros da estirpe de Rui Barbosa sejam os cerceamentos a que os três se vêem acometidos. Um, patrocinou o surgimento que consagrou o "publicitário" Marcos Valério; outro, devido provavelmente à natural decrepitude imposta pela condição de humano em idade senil, a despeito dos respeitáveis e consideráveis trabalhos que tenha produzido com viva intensidade ao longo de sua longeva vida pública; e o terceiro, por que não tem como esconder que entrou para os anais da história política mineira pela via transversa da suplência senatorial, após regar com generosas doações a campanha do titular do cargo, içado a cargo de ministro e abrindo lugar para a destoante figura que desfila sua vasta cabeleira e seu inescondível sotaque carioca pelos salões azuis do Senado. Não bastasse, vem destacando sua interinidade no plenário e nas comissões como bastião do proselitismo tão característico do peemedebismo moderno.

A suplência senatorial, aliás, é conhecida pela forma como se inserem na política, do dia pra noite, ilustres desconhecidos (geralmente endinheirados) que galgam espaço na vida da Nação sem terem recebido um voto sequer. Hoje, somam quase 20 entre os 77 membros da Casa, os "senadores" sem voto. Tal como a cabeça de bacalhau, na regra eleitoral, sabe-se que os suplentes existem, mas ninguém conhece seu rosto...

2010 se aproxima. Será que esta atual bancada que Minas ostenta no Senata tem condições, legitimidade e autoridade para se estabelecerem, perante o eleitorado, como baluartes de sustentação de uma eventual candidatura de Aécio Neves (neto do senador) à Presidência da República? Para saber a resposta, só indo à Brasília e tentar comprovar que a nossa bancada na Casa de Rui Barbosa não é "cabeça de bacalhau".

Postado em 28-02-2009


Complexo de inferioridade nas estatais mineiras


Necessidade de propagandearem que são as melhores do Brasil, esconde, na realidade, um baita complexo de inferioridade.

É só ligar a TV e o rádio que num instante aparecem as propagandas chapas-brancas que instituem a administração pública mineira, sobretudo das estatais, como, nada mais, nada menos que as melhores do Brasil.

Primeiro foi a estatal mineira de energia que se auto-proclamou como a “melhor energia do Brasil”, mas logo, a estatal de saneamento não quis ficar para trás e arranjou um jeito de oficializar-se nas suas propagandas como a “melhor empresa pública do Brasil”com base no título obtido através de uma revista.

“A Revista “Isto É Dinheiro” premiou a Copasa como a melhor companhia do setor de prestação de serviços de utilidade pública no ano de 2004, 2005 e 2006 (http://www.mzweb.com.br/copasa/web/conteudo_pt.asp?idioma=0&tipo=19726&conta=28)



Como, através da propaganda pode-se apregoar de tudo, bastando para isto comprar espaço publicitário na mídia, no apagar das luzes, a última gestão pública da capital mineira percebendo que ninguém questionou o feito propagandista das estatais, foi logo se intitulando simplesmente como a “melhor capital do Brasil” (na verdade, tirando o excelente clima, não sobressaímos em nada frente às outras capitais brasileiras).

O perigo é que de tanto acharmos que somos “os melhores”, vamos acabar inchando ainda mais o caricatural ego da nossa “mineirice”. Pior, diante da necessidade de entronizarmos o nosso governador como presidente do Brasil, se continuar com esta paranóia, estaremos bem perto da autoproclamação de que nossas qualidades e defeitos são melhores que os da, “paulistice”, “carioquisse”, acima, também, da “nordestinidade” e da “sulinidade”. Ou seja, corremos o risco de passarmos por ridículos!

Na realidade, a recorrente necessidade de afirmação da condição de “melhor” esconde, inconscientemente, uma percepção de que nós mineiros, de alguma forma, temos alguma inferioridade perante os outros, mas não queremos fazer disto uma desvantagem no contexto político nacional. Então, supervalorizamos as jóias da coroa (CEMIG e COPASA neste caso), mesmo que sabendo que estas empresas não atendem plenamente todo o estado de Minas Gerais.

Pergunte aos empresários se existe disponibilidade de energia no sul de Minas para grandes expansões industriais. Na grande BH é comum bairros inteiros ficarem sem energia por vários dias após as tempestades. A notória falta de saneamento em Minas é, na realidade, um dos grandes entraves à saúde e à melhor qualidade de vida dos mineiros.

Um bom exemplo da inutilidade desta propaganda de “melhor” é o caso da ex-Telemig que também se vangloriava de ser a empresa de telecomunicações melhor administrada do Brasil (o atual presidente da Assembléia era um de seus diretores e o atual prefeito de BH um de seus maiores prestadores de serviços), ao passo que a Telerj, era jocosamente apelidada como "telerda" ou até “telemerda” por seus usuários devido ao péssimo serviço que prestava.

No entanto, após o advento da privatização, os cariocas ficaram com a sede da Oi (Telemar), que, do estado do Rio, comanda as operações em todo o Brasil.

Se isto vai acontecer com a CEMIG e COPASA ainda é cedo para especular, mas que nenhum ganho político é obtido na prática, com a autoproclamação de que a administração mineira é melhor que as outras, isto é certo, a não ser a revelação subliminar do nosso complexo de inferioridade!

Postado em 28-02-2009
heliocaled@gmail.com